quinta-feira, 31 de julho de 2008

Dia 1 - O Primeiro dia do resto da minha vida

Hoje é o dia 1.

A contagem decrescente já começou à anos quando na alegria da minha infância sonhava em percorrer o mundo em busca das minas de Salomão, da ilha do diabo ou observar - em silêncio - o pôr do sol junto ao Grand Canyon, qual Lone Ranger nado e criado na periferia de Lisboa.

Mas se os sonhos cedo nasceram e sempre me acompanharam, a Aventura sempre foi mais lida e sonhada que realmente vivida. Até agora persegui persistentemente a concretização dos sonhos que eram suposto estarem junto da Felicidade - essa entidade fugidia - e que demorei a perceber que esta não é um destino mas antes um percurso. Olhado para trás, o meu percurso até nem foi mau de todo, mas a Aventura ficou presa algures entre as responsabilidades de pequeno adulto e o esforço de alcançar algum reconhecimento.

A sensação que hoje tenho é que, chegado aos trinta, e poucos, os devaneios de jogar e ganhar com as regras que existem e que se impõem deixou de me interessar. Deixou de me interessar trabalhar até mais tarde num trabalho que até é interessante quando muito mais há para além dele que eu gostaria de experimentar e conhecer, embora com recompensas económicas substancialmente mais baixas. E depois? Não me mudarei para uma casa maior, não comprarei um carro mais moderno e as férias não serão naquele lugar paradisíaco. À fome não morro! Acho... Mas a decisão de viver mais de acordo com o que sinto e menos com o que é esperado de mim (seja lá o que isso for) está tomada.

Tive várias sortes na vida, entre elas ter conhecido uma mulher que para além de a amar e todas as virtudes que lhe reconheço, tem um sonho antigo muito similar ao meu. Confesso que uma das razões que me levou a apaixonar por ela foi o brilho nos olhos quando falava nesse sonho. Fomos construindo-o em conjunto ao longo do tempo. Entretanto casámos!

O plano vem sendo traçado pelos dois à já cerca de 12 anos e até agora nunca nos preocupámos muito em concretizá-lo. Nem em pensar quando o poríamos efectivamente em acção. Consistia simplesmente numa idealização recorrente de uma fase mais ou menos longíqua da nossa vida a dois onde, depois de uma vida dedicada a trabalhar no duro para assegurar um nível de rendimentos confortável, deixaríamos os negócios entregues ao colaborador que mais honestamente se tivesse empenhado e que assegurasse a sustentabilidade futura desses negócios. Nesse tempo que haveria de chegar um dia, juntaríamos as nossas poupanças e, com um rendimento regular assegurado, investiríamos numa escola em África. Era mais ou menos isto que falávamos quando sonhávamos com o dia em que as rotinas enfadonhas terminariam e nos iríamos sentir verdadeiramente úteis.

Os tempos presentes trazem dificuldades e com elas oportunidades também elas próprias desses tempos. A decisão de pensar mais sériamente quando é que chegaria o dia de partir atrás dos nossos sonhos foi emergindo espontaneamente. E enquanto pensávamos quando é que iríamos ter um filho; qual o negócio em que iríamos apostar e empenharmo-nos no seu desenvolvimento; se a casa se venderia antes de nascer a criança; qual a infância que lhe queríamos proporcionar; será que haveria tempo disponível para trabalhar e ter tempo suficiente para acompanhar o desenvolvimento desse filho? Estas e outras perguntas similares não saíam das nossas cabeças e conversas particulares.

Deixámos a cidade onde crescemos para irmos viver para uma aldeia (relativamente perto da cidade mas suficientemente longe desta). As recordações que ficaram da nossa própria infância estavam mais relacionadas com as férias grandes (de três deliciosos meses) passadas na companhia dos nossos avós na província de proveniência dos nossos pais que o resto do ano neste rebuliço cada vez mais competitivo da cidade.

É para nós claro que o sentido das coisas - ou da vida - somos nós que o criamos. É fácil perceber que o que pode ser um sonho para uns é um pesadelo para outros. África para nós é um sonho de podermos dar mais de nós sem nos perdermos em competições mesquinhas e inconsequentes. Deixou de fazer sentido para nós (se é que alguma vez tenha feito) dedicarmos o nosso tempo a tentar evoluir profissional e economicamente. Voltei a pintar mais assíduamente, a tocar guitarra e a ler por puro prazer.

A decisão está tomada. É agora o tempo certo para avançar.